sábado, 23 de maio de 2009

Rua

Com as mãos enfiadas no bolso,
Da jaqueta de lã marrom,
Atravesso o desespero e sinto a rua.
Paro no precipício da guia,
E me estilhaço em cada olhar.

Sou o bife de ouro do velho-homem-sanduíche,
Compro os caminhões de plástico dos meninos,
Transporto os desejos de cada garota,
Desejo o pão dormido de todo mendigo.

Quero beber o choro de toda namorada,
Abandonar o medo da poça dágua,
Urinar do sino de toda praça,
E ficar num banco, sonhando estrelas.

Anunciei o apocalipse - 9,90
Esmolei ouvidos e acordeons,
Rebolei a calça e o descontrole,
Esperei o sinal menstruar.

Com as mãos enfiadas no bolso,
Nesta fria ave-maria,
Senti-me mais humano,
Mais humano que um grito.

Mais humano que um tijolo,
Mais humano que um rio,
Mais humano que um espelho,
Mais humano que um estilhaço.

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